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Data de Publicação 24/02/2025 - 17:12 Atualizado em 25/02/2025 - 16:11 638 visualizações

Egressa de Medicina Veterinária da Unipampa inicia pós-doutorado em Harvard

Karine Mattos é uma das duas egressas da Unipampa a iniciar o curso no exterior em 2025
Por Sofia Viero Sorgetzt

Duas egressas da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) iniciam neste ano seus pós-doutorados no exterior. Isadora Ferrão, egressa do curso de Ciência da Computação do Campus Alegrete, na Universidade de Bretanha Ocidental, em Brest, na França, e Karine de Mattos, graduada em Medicina Veterinária no Campus Uruguaiana, na Universidade Harvard, em Cambridge, nos Estados Unidos.

Em entrevista, as duas pesquisadoras destacaram a importância da formação ofertada pela Unipampa como impulso para a trajetória na pós-graduação, prosseguindo no caminho da pesquisa iniciado durante a faculdade. O primeiro texto desta série apresenta o percurso de Karine Mattos, que sintetiza com precisão o significado do conhecimento adquirido: “vinda de uma família humilde do interior do estado, desde cedo compreendi que a educação seria minha maior ferramenta para mudar minha realidade e expandir meus horizontes”.

Antes de ingressar no curso de Medicina Veterinária, Karine concluiu o curso técnico em Agropecuária na Escola Estadual Técnica Celeste Gobbato, em Palmeira das Missões. Já aos 14 anos, conciliava o ensino médio com o técnico em tempo integral, em uma instituição que incentivava a pesquisa e a participação em feiras científicas. Desde o primeiro ano, Karine apresentou trabalhos e conquistou prêmios em eventos nacionais e internacionais, como a FEBRACE, em São Paulo – a maior feira de ciências e engenharia do Brasil para jovens cientistas – e a MOSTRATEC, uma mostra internacional que reúne jovens pesquisadores de mais de 20 países. Nesse ambiente, Karine percebeu, pela primeira vez, o quanto a ciência conecta pessoas ao redor do mundo e abre portas para experiências transformadoras.

Ao final do curso técnico, Karine já tinha grande afinidade com a área de reprodução animal e decidiu realizar seu estágio final na Embrapa Pecuária Sul, onde acompanhou de perto pesquisas voltadas à reprodução ovina. Nesse período, teve sua primeira experiência em um laboratório de pesquisa, explorando técnicas de biologia molecular. Essa vivência não apenas consolidou o interesse de Karine pela pesquisa, mas também despertou sua curiosidade, ampliando sua perspectiva e reforçando seu desejo de seguir uma trajetória que envolvesse ciência.

Em 2011, aos 17 anos, Karine ingressou na graduação em Medicina Veterinária no Campus Uruguaiana da Unipampa. Desde os primeiros meses de curso, buscou se conectar com grupos de pesquisa e encontrar mentores que pudessem guiá-la. Foi assim que Karine encontrou, nos laboratórios de Biotecnologia da Reprodução Animal (Biotech), sob a mentoria dos professores Daniela dos Santos Brum e Fábio Gallas Leivas, e de Anatomia Animal, sob orientação do professor Paulo de Souza Junior, um ambiente ideal para seu crescimento científico. Nessas experiências, Karine pôde participar de diversos projetos de pesquisa, apresentar resultados em congressos do norte ao sul do Brasil, trocar ideias com pesquisadores de diferentes lugares e contribuir para publicações em periódicos científicos, consolidando o início da sua jornada na pesquisa. 

Além da pesquisa, a Universidade foi um espaço de transformação. Mais do que os laboratórios, envolveu movimento estudantil, atividades de extensão, ensino e um contato direto com a comunidade local. Karine afirma que a Unipampa lhe proporcionou um ambiente rico em debates e trocas, onde conviveu com colegas de todo o Brasil e de diferentes cursos. Essa vivência ampliou a visão de mundo de Karine e reforçou sua crença na educação como uma ferramenta de mudança e conexão. Outro marco importante foi participar do Grupo PET Veterinária. Esse período de mais de quatro anos foi essencial para o crescimento de Karine, permitindo-lhe, além de inúmeras experiências de ensino e extensão, organizar mostras científicas e construir uma rede de contatos fundamental para os passos seguintes da carreira. O impacto direto dos docentes na formação foi outro ponto que Karine destacou. Ela relembra que a professora Daniela Brum, então tutora do Grupo PET Veterinária, teve um papel fundamental. “Além de ser um exemplo de cientista e educadora, foi uma mentora inspiradora, sempre oferecendo conselhos valiosos e me encorajando a ampliar meus horizontes. Foi ela quem me mostrou a importância de buscar experiências além do que já conhecemos, de explorar o mundo e de entender como essas vivências são transformadoras, tanto pessoal quanto profissionalmente. Sua confiança no meu potencial fez toda a diferença, e sou profundamente grata por seu apoio, ensinamentos e encorajamento”.

Durante a graduação, Karine também realizou estágios extracurriculares em laboratórios de pesquisa no Brasil, Uruguai e Espanha, neste último, a oportunidade de estudar por um ano surgiu graças ao programa Ciência sem Fronteiras. A integração em grupos de pesquisa ampliou a visão de Karine sobre a ciência e sua capacidade de conectar pessoas. Ao comparar diferentes sistemas de ensino e pesquisa, ela percebeu a qualidade da Unipampa e que a Universidade oferecia mais oportunidades de iniciação científica para alunos de graduação do que muitas instituições renomadas no exterior. Essa constatação reforçou o orgulho de Karine pela formação e base acadêmica construídas na Unipampa. “A Unipampa foi essencial para minha formação como cientista, proporcionando um ambiente acadêmico rico em oportunidades, desafios e descobertas. A curiosidade que me motivou no início da minha jornada continua sendo o motor que me impulsiona”, afirma Karine.

Perceber que aprender outras línguas não era algo impossível, como imaginava, mas uma questão de imersão e persistência ampliou ainda mais a confiança de Karine para buscar novas experiências internacionais e seguir uma carreira na ciência. Seu estágio final da graduação, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em um ambiente voltado à pesquisa, consolidou essa convicção e fortaleceu a decisão de seguir no mestrado e doutorado. Karine reforça que teve o privilégio de contar com mentores excepcionais, que a apoiaram e incentivaram em cada etapa da trajetória.Esse caminho – feito de aprendizado, trocas, viagens e oportunidades – a levou a se tornar pesquisadora em Harvard, nos Estados Unidos. “Ao olhar para trás, percebo que a educação e a ciência foram as chaves que me permitiram transformar minha trajetória. Através da pesquisa, encontrei um mundo de possibilidades que antes pareciam distantes. Sou muito grata à Unipampa e a todos que contribuíram para minha jornada e para a pessoa que me tornei.

Em 2017, Karine iniciou o mestrado em Zootecnia na UFRGS, onde teve a oportunidade de realizar um período de intercâmbio de 5 meses na Université de Montréal (UdeM) no Canadá. Em 2019, iniciou o doutorado na Université Laval (ULAVAL) no Canadá, no programa de Medicina Molecular. Nesse período, recebeu várias bolsas de estudo e foi selecionada para o reconhecido curso de 6 semanas Fronteiras em Reprodução no ‘Marine Biological Laboratories’ nos EUA, que seleciona todo ano apenas 20 pesquisadores entre alunos de doutorado, pós-doutores, e residentes de todo o mundo. 

Ao finalizar o doutorado em 2024, Karine recebeu a avaliação "Excelente" de todos os 5 membros do comitê de avaliação, incluindo diretor e co-diretor de pesquisa, tanto na parte escrita da tese como na defesa. Por esse resultado, Karine entrou no Quadro de Honra da Universidade. “O Quadro de Honra da Faculdade de Estudos Superiores e Pós-Doutorais destaca a qualidade excepcional do percurso acadêmico e a excelência das pessoas diplomadas nos ciclos superiores”, explica Karine.

Em janeiro, Karine iniciou o pós-doutorado no grupo do Dr. David Pépin, no Massachussets General Hospital (MGH), o primeiro e maior hospital universitário da Harvard Medical School, que integra a Harvard University. Karine atua no laboratório dedicado ao estudo da biologia ovariana, e participa de diversos projetos em duas linhas principais de pesquisa: A primeira linha foca no desenvolvimento de contraceptivos ou esterilizantes não cirúrgicos para gatos e cães, abordando uma necessidade importante tanto para o controle populacional quanto para o bem-estar animal. A segunda linha busca terapias que prolonguem a longevidade ovariana, com o objetivo de melhorar a saúde reprodutiva e geral ao longo da vida. Nesse contexto, Karine atua em pesquisas voltadas tanto para a saúde da mulher quanto para aplicações na área animal.

    • Foto de Karine no laboratório sentada de jaleco.
      Karine estuda biologia ovariana no pós-doutorado.
    • Karine e outras cinco pessoas posam em pé para a foto.
      Karine na defesa da sua tese de doutorado com os integrantes do comitê de avaliação.