Pepe Mujica e Unipampa: raízes que seguem florescendo
José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai e uma das figuras mais emblemáticas da política latino-americana, faleceu em 13 de maio de 2025, aos 89 anos. Mundialmente conhecido por sua vida austera, por seu compromisso com a justiça social e pela defesa incondicional da educação como direito universal, Mujica mantém um vínculo profundo e simbólico com a Universidade Federal do Pampa (Unipampa): foi o primeiro a receber o título de Doutor Honoris Causa da instituição, em 2017. Além disso, o Campus Bagé da Unipampa abriga uma estátua em sua homenagem, um símbolo da admiração e respeito que sua trajetória inspira entre alunos e professores da universidade.
Relembre quem foi Mujica para a Unipampa — e por que suas ideias continuam ecoando na missão da universidade de integrar saberes, territórios e povos da América Latina.
Uma trajetória cultivada com simplicidade e convicção
Antes de ser presidente, Mujica foi floricultor. Entre crisântemos e estufas, construiu a filosofia de vida que o tornaria um dos líderes mais respeitados do continente. Também foi guerrilheiro nos anos 1960 e 1970, integrando o Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, que combatia a repressão e as injustiças sociais no Uruguai.
Durante a ditadura militar, foi capturado e passou quase 15 anos preso — grande parte desse tempo em regime de solitária, sendo transferido entre quartéis e mantido em condições severas de isolamento. Convivendo com o silêncio e a privação por anos, Mujica chegou a ser considerado um dos “reféns” da ditadura — prisioneiros mantidos em condições extremas como forma de pressão política.
Mas, ao contrário do que muitos esperavam, Mujica não saiu da prisão movido por ódio. Sua longa experiência no cárcere o transformou em alguém ainda mais comprometido com o diálogo, com a paz e com a democracia. Essa travessia dolorosa o fortaleceu como líder — e como símbolo da possibilidade de resistir sem se desumanizar. “Se não pudermos perdoar, não poderemos viver em sociedade”, dizia com frequência.
Na Unipampa, essas sementes foram reconhecidas em vida — e seguem germinando após sua partida.
O primeiro Doutor Honoris Causa da Unipampa
Em 2017, durante o 9º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão (Siepe), realizado em Santana do Livramento — cidade que sintetiza a vocação fronteiriça da Unipampa — Mujica recebeu o primeiro título de Doutor Honoris Causa da história da universidade.
“É uma honra receber este título da Universidade Federal do Pampa, uma instituição que representa o compromisso com a educação e a integração regional”, afirmou na ocasião.
Em seu discurso, fez uma defesa contundente do acesso universal ao ensino superior: “Vivemos em um tempo que exige a democratização do conhecimento. Não podemos permitir que o acesso à educação superior seja privilégio de poucos. Cada indivíduo é um universo, e a igualdade de oportunidades é fundamental para o progresso de nossos povos. ”
E, com a sua lucidez característica, alertou: “aos poucos, o mundo demandará qualificação massiva. Não por maldade, mas porque haverá uma necessidade crescente de trabalhadores qualificados. As massas trabalhadoras serão mais eficientes porque terão acesso à universidade.”
Educação como elo de integração latino-americana
A Unipampa, situada na fronteira entre Brasil e Uruguai, materializa o ideal de Mujica de uma América Latina mais integrada e solidária. Em suas falas, ele sempre destacou a educação como eixo de um projeto civilizatório compartilhado, capaz de unir os países por laços que vão além da economia.
Em uma de suas conferências em universidades latino-americanas, Mujica afirmou: “a universidade que importa é aquela que eleva a qualidade de vida do povo ao qual pertence. Não pode ser um espaço isolado, sofisticado e distante da realidade — como uma flor rara cultivada em estufa. A universidade deve estar comprometida com as angústias, as dores e as alegrias da sua sociedade. ”
Ao conceder o título ao ex-presidente, a Unipampa reafirmou seu papel como espaço de diálogo entre os povos, como agente de transformação regional e como defensora de um projeto educacional inclusivo, público e enraizado na realidade social do continente.
Uma estátua que dialoga com a paisagem e a história
Em 2022, o Campus Bagé da Unipampa inaugurou uma estátua em bronze de Mujica, obra do artista Edgar Duvivier. A escultura o representa com uma cuia e uma térmica nas mãos — ícones do cotidiano platino e da hospitalidade fronteiriça. A homenagem foi viabilizada por meio de uma campanha colaborativa e contou com o apoio direto do escultor, que doou parte da renda obtida com réplicas menores da obra.
Ao lado da estátua, duas frases eternizam o pensamento de Mujica sobre educação: “investir em educação primeiro, segundo em educação e terceiro em educação”, e “um povo educado tem as melhores opções na vida e é muito mais difícil aos corruptos e mentirosos enganá-los.”
Um legado que floresce na fronteira
Mujica nunca atuou pela urgência das manchetes, mas pelo tempo longo das transformações profundas — como quem planta. Seu legado floresce na coerência entre o que dizia e o que vivia, na paciência de ideias bem cultivadas e na radical simplicidade de seu estilo de vida.
Na Unipampa, essa semente germina todos os dias: nas políticas de inclusão, nos projetos de extensão que cruzam fronteiras, nos estudantes que encontram, no ensino público, a possibilidade de construir novos caminhos.
Ao homenagear Mujica, a Unipampa não apenas reverenciou um líder. Reafirmou, também, o seu próprio compromisso com a educação como instrumento de emancipação, com a integração dos povos do sul e com a construção de um futuro em que a dignidade seja um direito compartilhado — e não um privilégio.
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