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Data de Publicação 08/07/2022 - 15:12 Atualizado em 08/07/2022 - 16:26 1154 visualizações

Professoras da Unipampa buscam estimular iniciativas de inclusão e acessibilidade

Políticas de inclusão de pessoas autistas no meio acadêmico são um desafio que mobiliza professoras de diferentes campi da Unipampa
Por Micael dos Santos Olegário

A professora do curso de Medicina da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Valéria Aydos, começa a articular, no Campus Uruguaiana, a criação de grupo de pesquisa com pessoas neurodivergentes. A iniciativa vai ao encontro da busca pela inclusão da neurodiversidade na Universidade. Além da ação planejada pela professora do Campus Uruguaiana, outras ações de docentes da Unipampa buscam abordar os desafios da inclusão de pessoas autistas e de Pessoas com Deficiência (PcDs) no ambiente universitário.

Segundo informações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, e disponibilizadas na Revista Espaço Aberto da Universidade de São Paulo (USP), o número de pessoas autistas no Brasil se aproxima de 2 milhões. Deste contingente, muitos convivem diariamente em espaços como escolas e universidades. A Lei Berenice Piana 12.764 de 2012, que estabeleceu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA), garante o direito das pessoas autistas à saúde e à educação. Ações que busquem a inclusão e acolhimento destes indivíduos nos espaços acadêmicos são de suma importância para a sociedade.

Valéria Aydos possui doutorado em Antropologia Social e desde sua tese se interessa pela temática da inclusão. Valéria afirma que é preciso uma maior conscientização sobre o que é o autismo e a neurodiversidade, ou seja, as variações neuro psico-sociais das pessoas. “Existem diversidades neurocognitivas, todos nós somos neurodiversos, mas uma parcela de nós é neurodivergente, ou seja, tem uma forma de ser-estar no mundo que encontra preconceitos, barreiras sensoriais, de comunicação, arquitetônicas, atitudinais, que impedem a participação delas na sociedade”, comenta a professora.

A falta de conhecimento sobre o que é autismo também é apontada por Sandra Maders, docente de Ciências da Natureza no Campus Dom Pedrito da Unipampa. Apesar de não ser especialista em autismo, Sandra já orientou trabalhos de conclusão de curso (TCC) sobre o tema e trabalha com a temática da inclusão dentro da graduação. “Para falar de inclusão é preciso se desvencilhar de alguns preconceitos em relação a vários tipos de necessidades educativas especiais, ou qualquer diferença que a pessoa venha a ter. Eu vejo que o maior problema que temos, não só na Unipampa, mas no geral, é essa falta de conhecimento das pessoas”, complementa.

Segundo Sandra, além da inclusão é preciso acolher as pessoas autistas na Universidade, e preparar os professores para isso. “Um dos grandes desafios é tornar o autismo e a acessibilidade familiar a todos os professores, porque quando eu falo sobre autismo, não sou só eu que vou trabalhar com esse aluno”. O conhecimento sobre o tema é a chave para um olhar mais atento e cuidadoso com estes estudantes e suas características.

Valéria Aydos cita a necessidade de serem abertos canais de diálogo entre discentes e docentes. “Os professores precisam incorporar a gestão da diversidade dos alunos nas suas aulas, e isso são direitos previstos em lei”. Apesar de não ser possível alcançar um ideal perfeito, a professora afirma que é preciso construir a inclusão possível. “A gente não tem os mesmos tempos e ritmos de trabalho, inclusive para a construção do conhecimento. Tem pessoas que vão contribuir objetivamente, simbolicamente, outras espacialmente. Nós temos inteligências múltiplas”, explica Valéria.

O objetivo da docente de Medicina é criar um projeto para mapear as pessoas neurodivergentes dentro da Unipampa e construir projetos voltados para esse público. Para Valéria, a acessibilidade precisa preceder a entrada de pessoas com deficiência e/ou neurodiversas na Universidade. “Temos que propor projetos emancipatórios, que tenham como protagonistas as próprias pessoas autistas. Trazer essas pessoas para o protagonismo da própria pesquisa”. Ela cita também a importância de se inserir a capacitação sobre o público autista dentro da área da saúde para que os futuros médicos possam fazer melhores diagnósticos dessas pessoas.

Valéria aponta seu desejo de instituir uma linha de pesquisa na área da saúde do Campus Uruguaiana para pensar o autismo e a neurodiversidade. “Quais são as barreiras que estão presentes para obtenção de laudos e diagnósticos de autismo hoje dentro do campo da saúde?”. A professora ainda pretende identificar possíveis recortes de raça, classe e gênero dentro das pesquisas sobre autismo, e também as dificuldades encontradas por estas pessoas em ingressar no espaço da Universidade, seja ou não pela política de cotas.

O caminho ainda é longo, e as dificuldades estão evidenciadas no cotidiano do ensino e da sociedade. No entanto, o trabalho de pesquisa é vital para construir uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para pessoas autistas, neurodivergentes, e todos os seres humanos. “A comunidade autista vai participar junto com a gente desde o início, para pensar as ações deste projeto. As pessoas autistas, elas mesmas, vão pensar as ações em conjunto”. Os estudantes interessados podem procurar a professora Valéria por e-mail. O intuito da iniciativa é tornar a Universidade um ambiente seguro e ainda mais aberto para todas as diversidades e diferenças. 

O exemplo da Sessão Azul do Planetário da Unipampa

Uma das ações da Unipampa na promoção da acessibilidade para pessoas com autismo ocorreu no Campus Bagé.  Foi desenvolvida a Sessão Azul do Planetário para acolher crianças autistas no Planetário da Universidade. O projeto é da professora da Unipampa Amelia Rota Borges de Bastos, em conjunto com o professor Guilherme Frederico Marranghello e a técnica Cecília Petinga Irala.

O projeto envolveu pensar o espaço universitário como um local acolhedor e acessível, com recursos para receber as pessoas autistas na sua forma de ser. Além das crianças, as famílias também participaram da visita. “O que nós queríamos para esse público é o direito de conhecer a astronomia. E também reconhecendo todas as dificuldades pelas quais as famílias passam, para que elas fossem nesse passeio tranquilas”, conta Amelia.

De acordo com a professora e pesquisadora da área de Educação Inclusiva, o intuito é desenvolver mais sessões adaptadas para cegos e surdos. “Nós temos um planejamento para o segundo semestre, que é para desenvolver outros tipos de sessões específicas, que é a sessão verde para surdos e a sessão branca para cegos. Também com recursos de acessibilidade, para permitir que estes usuários possam ter um máximo aproveitamento da experiência e conhecimento do planetário”. A ação desenvolvida pelo Planetário é um exemplo que vai na direção de enfrentar os desafios levantados por Valéria e Sandra, e pode inspirar o acolhimento do público autista em outros ambientes da Unipampa.

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