Início > Paleontologo Da Unipampa Participa de Estudo Sobre o Mais Completo Fossil de Pterossauro Brasileiro
Data de publicação 25/08/2021 - 22:16 Atualizado em: 25/08/2021 - 22:16 238 visualizações

Paleontólogo da Unipampa participa de estudo sobre o mais completo fóssil de pterossauro brasileiro

O animal, encontrado na Chapada do Araripe, preserva a maior parte dos seus ossos e restos de tecidos moles

A Chapada do Araripe, Nordeste do Brasil, é conhecida mundialmente por seus fósseis de pterossauros. Parentes dos dinossauros, estes répteis voadores extintos já povoavam os céus antes do aparecimento das primeiras aves. Dentre os pterossauros do Araripe, os mais estranhos são, provavelmente, os tapejarídeos, animais sem dentes e com gigantescas cristas no topo da cabeça. Ainda assim, até o momento, os tapejarídeos do Araripe eram conhecidos apenas por fragmentos e esqueletos incompletos.

Tudo isso acaba de mudar com a descrição do fóssil mais completo e bem preservado do grupo. O estudo, alavancado por um time de pesquisadores de quatro universidades diferentes do Brasil e uma de Portugal, foi publicado na revista científica PLOS ONE nesse 11 de agosto de 2021. O artigo, coordenado por Fabiana Costa (Universidade Federal do ABC), tem como primeiro autor Victor Beccari, da Universidade de São Paulo e NOVA School of Science and Technology (Portugal), contando com a participação do professor Felipe Pinheiro, da Universidade Federal do Pampa, Campus São Gabriel.

“Até o momento são conhecidos tapejarídeos do Brasil, China, Espanha e Marrocos. São pterossauros sem dentes e costumam ter cristas cefálicas que ocupam até três quartos da superfície do crânio. Apesar de ser conhecido por inúmeros fósseis, espécimes completos são muito raros”, conta Victor. O fóssil, armazenado no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, é um desses casos excepcionais.

Proveniente da Formação Crato, este material foi interceptado pela Polícia Federal em 2014 em uma operação que apreendeu mais de 3.000 fósseis que seriam contrabandeados para a Europa, Estados Unidos e outros países do hemisfério norte. Uma vez depositado na USP, parte deste material apreendido, incluindo este pterossauro, encontra-se na exposição “Fósseis do Araripe” do Museu de Geociências desta instituição.  "Apesar desta ter sido uma operação bem-sucedida, vale lembrar que perdemos todo ano muito material para o tráfico. Não obstante o conhecido e meritório esforço de instituições públicas nacionais para coibir as ações de traficantes na região, esta ainda é uma prática comum e deve ser combatida", declara Fabiana Costa, que coordenou o estudo do pterossauro a convite da USP.

O esqueleto, provavelmente o mais excepcional já encontrado no Brasil, pertence à espécie Tupandactylus navigans, animal anteriormente conhecido apenas por crânios isolados. O novo bicho possui mais de dois metros e meio de envergadura, e conta com uma crista de cerca de meio metro de altura no topo da cabeça. Ao ser descrito, o pterossauro foi ainda submetido tomografias computadorizadas, o que possibilitou a observação de estruturas ainda enterradas em sedimento.

A partir do estudo de sua anatomia e comparações com outras espécies conhecidas de pterossauros, concluiu-se que este animal teria passado a maior parte do tempo se alimentando em terra firme, não sendo muito bom voador. Os cientistas especulam ainda que tanto sua enorme crista cefálica quanto sua crista dentária (da mandíbula) podem ser características associadas ao dimorfismo sexual (isto é, diferenças entre machos e fêmeas).

“Trata-se de uma descoberta excepcional. O novo esqueleto nos deu uma oportunidade única de acessar a biologia de um animal extinto há mais de 100 milhões de anos. Além deste primeiro estudo, o fóssil certamente renderá inúmeras pesquisas futuras”, conta o docente da Unipampa, Felipe Pinheiro.

Além de multiplicar nosso conhecimento sobre um grupo tão peculiar, um espécime tão completo reforça a importância do Brasil no cenário mundial para a Paleontologia e renova a discussão sobre tráfico de fósseis e a necessidade do combate ao comércio ilegal destas joias científicas.

 

Com informações de Felipe Pinheiro