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Data de publicação 07/02/2022 - 10:42 Atualizado em: 07/02/2022 - 10:43

Programa de Extensão Catalogação e Digitalização de Documentação Histórica disponibiliza coleção do periódico "O Jaguarense"

Prosseguindo com o processo de difusão por via digital de fontes históricas produzidas no município de Jaguarão, o Programa de Extensão Catalogação e Digitalização de Documentação Histórica (PRODDOC), sediado no Campus Jaguarão da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), liberou o acesso a mais um acervo de documentos de grande valor para o conhecimento sobre a história da região sul do Estado através do seu repositório digital. Trata-se da coleção do periódico O Jaguarense, primeiro jornal a ser editado em Jaguarão.

Com circulação iniciada em 7 de setembro de 1855, o periódico foi fundado e redigido pelo ex-militar, advogado e jornalista carioca Pedro Bernardino de Moura (1828-1880) em uma tipografia localizada entre as atuais ruas Barão do Rio Branco e Quinze de Novembro, no centro da cidade. A coleção é composta por 115 exemplares datados entre 12 de setembro de 1855 e 10 de agosto de 1856, os quais estão agrupados em volumes no formato de arquivo PDF e divididos de acordo com o mês de circulação.

Difusão dos documentos foi possível através de parceria entre Instituto Histórico e Unipampa

Da mesma forma que as atas da Câmara Municipal referentes ao período monárquico, quase dois mil exemplares de jornais que circularam em Jaguarão entre 1855 e 1991 foram higienizados, catalogados e digitalizados, e gradualmente serão publicados para acesso livre e irrestrito através do repositório do PRODDOC. Essas ações são parte da parceria firmada entre a Unipampa e o Instituto Histórico e Geográfico de Jaguarão (IHGJ), instituição sem fins lucrativos que é responsável pela salvaguarda da documentação histórica original.

Em 2012, a Universidade criou o projeto de extensão para executar o processo de digitalização, visto que o IHGJ não dispunha de recursos financeiros para fazê-lo. O projeto, que recentemente foi transformado em programa de extensão – possibilitando assim a atuação em propostas semelhantes de instituições da região de abrangência da Unipampa –, é composto por uma equipe multidisciplinar de colaboradores e bolsistas, a qual inclui profissionais das áreas de história, biblioteconomia, arquivística, tecnologia da informação, produção cultural e letras, coordenada pelo historiador do campus, Alexandre dos Santos Villas Boas.

Muito além do primeiro jornal

Envolvido com a política desde o tempo que estudava no Rio de Janeiro, Pedro Bernardino de Moura foi enviado ao Rio Grande do Sul como punição. Foi colaborador do jornal Diário do Rio Grande e naquela cidade portuária fundou o periódico crítico-opinativo O Carijó. Por volta de março de 1855, na companhia de seu irmão, o também jornalista Carlos Bernardino, Pedro mudou-se para Jaguarão, onde inicialmente trabalhou como advogado provisionado.

Através de uma análise dos editoriais produzidos e reproduzidos por O Jaguarense, é possível dizer que o periódico se posicionava como crítico da política de conciliação entre os partidos Liberal e Conservador que orientou o período do Marquês de Paraná como chefe do governo monárquico (1853-1856). As ácidas opiniões direcionadas a autoridades locais, especialmente ao juiz de Direito José de Araújo Brusque, e as denúncias contra alguns atos da Câmara Municipal de Jaguarão desencadearam uma série de violências contra o jornal e seu proprietário: a tipografia foi invadida pelo menos duas vezes e Pedro Bernardino de Moura recebeu ameaças contra sua integridade física que repercutiram em todo o país.

Em tempos da pandemia de covid-19, o usuário também poderá encontrar na coleção do jornal O Jaguarense, informações e narrativas sobre uma crise sanitária vivenciada pelo Brasil no século XIX e que vem sendo comparada com o atual contexto global: entre novembro e dezembro de 1855, uma violenta epidemia de cólera-morbo provocou a morte de quase trezentas pessoas em Jaguarão. Por meio de seu jornal, Pedro Bernardino de Moura registrou a ação (e a omissão) das autoridades públicas no combate à emergência sanitária, abriu suas páginas para a publicação de teorias que buscavam educar a população acerca do processo de contágio com a doença e garantiu espaço para a divulgação de uma surpreendente variedade de tratamentos (medicinais e religiosos) contra o cólera disponíveis naquele momento de escassos recursos, em uma sociedade na qual as superstições do catolicismo luso-brasileiro exerciam forte influência cultural.

Fácil acesso e ferramentas de pesquisa

Tanto o repositório como a coleção foram construídos de acordo com normas e recomendações de organizações nacionais e internacionais, como o Conselho Internacional de Arquivos. Esta escolha implicou não somente na padronização, como também no oferecimento de modernos recursos para o usuário mediante a adoção do software Tainacan para o gerenciamento do repositório. Assim, por exemplo, todos os volumes da coleção do jornal “O Jaguarense” possuem descrição arquivística e historiográfica, contendo dados que podem auxiliar o pesquisador na recuperação de informações. Além disso, a ferramenta de Reconhecimento Óptico de Caracteres está habilitada, possibilitando que o usuário, através do comando Ctrl-F, pesquise por palavras e expressões no interior de cada arquivo digital.

Para conhecer o repositório digital e acessar as coleções de documentos históricos, basta clicar no link: PRODDOC – Coleções.

 

Com informações de Alexandre dos Santos Villas Boas