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Data de Publicação 10/12/2021 - 11:22 Atualizado em 10/12/2021 - 11:53 916 visualizações

Quilombola e Graduanda em Educação do Campo da Unipampa é aprovada em primeiro lugar para mestrado na UNB

Por Tamíris Centeno Pereira da Rosa

A discente Fabiani Franco de Alves, quilombola da Comunidade de Remanescente de Quilombolas de Palmas em Bagé e graduanda em Educação do Campo – Licenciatura da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) foi aprovada em 1º Lugar para o Curso de Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Comunidades Tradicionais ‌(MESPT) da Universidade de Brasília (UNB)‌. Após as provas de análise de memorial, análise de projeto, prova de entrevista e prova de língua estrangeira Alves foi aprovada com 97,48 de 100 pontos.

A estudante, que faz parte da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e do Coletivo Nacional de Educação da mesma organização, pretende dar continuidade ao Trabalho de Conclusão de Curso defendido recentemente no curso de Educação do Campo no Campus de Dom Pedrito, aprofundando estudos sobre memórias e narrativas das condições sociais, econômicas e ambientais que fundamentam as lutas e resistências de sua comunidade de origem. No memorial apresentado à UnB a discente ressalta que o estudo é uma demanda coletiva, apresentada pela comunidade quilombola não só de Palmas em Bagé, mas de todas as comunidades do Rio Grande do Sul.

De acordo com o professor da Unipampa e coordenador do Projeto de Pesquisa Territórios de R-existência: educação e movimentos como práticas, saberes e conhecimentos sociais de resistência e de esperança, José Guilherme Gonzaga, a admissão de uma estudante do curso de educação do campo, jovem, negra, quilombola, do Sul do Rio Grande do Sul como primeiro colocada em um programa de pós-graduação de uma das mais respeitadas universidades brasileiras, a UNB, reafirma a necessidade e a importância do Curso de Educação do Campo. 

“Ao mesmo tempo mostra a necessidade da universidade se reeducar com os conhecimentos e saberes dos povos e comunidades dos territórios tradicionais, dos Campos, das águas, das florestas e dos povos originários. Demonstra também a importância do Curso Licenciatura em Educação do Campo - Unipampa, Campus Dom Pedrito, avaliado com nota máxima pelo Inep, para a consolidação da Unipampa na região da Campanha”, afirma ele.

O docente ainda reforça que a aprovação da discente no mestrado da UNB é mais uma das inúmeras conquistas de um trabalho coletivo que envolve a participação das comunidades, de técnico-administrativos em educação, discentes e docentes, nos diferentes tempos e espaços educativos da Alternância, fundamental para que diferentes povos e culturas tenham acesso à universidade.

Para a estudante a conquista é importante não só para comunidade como para o RS: “a entrada no mestrado também é uma questão estratégica pensando o movimento Quilombola como um todo”, explica Alves

“Saio de um curso bastante específico, de Educação do/no Campo, tão atacado e por vezes não reconhecido com um currículo excelente que embasou inclusive ser aprovada em uma das melhores Universidades do País, mas que ainda não tem o devido reconhecimento, inclusive pela própria SEDUC/RS, por exemplo, quando não nos chama nos Contratos temporários, ou pelos municípios quando não nos prevêem nos concursos públicos ou quando prevêem, não chamam”, destaca ela.

A estudante explica que esses cursos em alternância prezam a vivência nos Territórios/comunidades de origem dos estudantes, num processo dialógico entre Universidade e Comunidade, em que a Comunidade não seja objeto de pesquisa, mas parte deste processo. “E cursos como o MESPT se tornam de fundamental importância no atual momento de total descaso e extremo ataque do governo, do agro, da mineração e etc avançando sob os territórios tradicionais, então pensar sustentabilidade, educação, ancestralidade, saúde etc junto aos povos em seus territórios é um ato de resistência”, conclui Alves.

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